terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O Príncipe de Bicicleta


No dia quatro de janeiro de um ano qualquer, chegou a vez dela. Por quê?
Ela sempre sonhou com o príncipe encantado, aquele que vem em um cavalo branco, que abra a porta da carruagem, que a entenda, que goste dela e a respeite.
Por puro azar, os príncipes que se apresentavam a ela pareciam sapos ou eram verdadeiros ogros.
Mas nesse dia não. Era o dia dela. A ama entrou no quarto - havia uma cama coberta por um véu azul, uma vista que dava para as montanhas, um livro sobre a poltrona ao lado da janela e um espelho que refletia a pele branca, os cabelos negros, os lábios rosados da filha do rei, que se penteava.
Cheia de surpresa e uma ânsia que não cabia em si, a princesa abriu o envelope e leu o que havia na carta trazida pela ama.
O espanto foi tamanho quando a menina reconheceu a letra que por um momento pensou estar enganada. Era ele, o jovem com quem se encontrava para desabafar, aquele com quem sorrira ao pôr do sol tantas vezes, o mesmo que lhe dava rosas vermelhas a cada novo dia, era ele, o seu melhor amigo. No papel, as palavras lidas refletiam o querer e o amor que o tão próximo amigo sentia por ela. Mas há tanto não se viam, como poderia ele ainda pensar nela? E de forma tão singela e carinhosa.
Toda sua indecisão e sensatez sumiram quando se lembrou dos detalhes, lembrou que ela tentava não confundir os sentimentos, mas agora ela sabia: ele a queria e ela o queria com a mesma intensidade.
Só uma coisa a angustiava: ele era um príncipe viajante. Seu principal objetivo era levar sua filosofia de vida para os outros reinos. Ia sempre com sua bicicleta onde quer que o chamassem. Tinha os cabelos cacheados e negros como a noite, era alto, e tinha um riso infantil.
Mas na carta dizia que se ela o aceitasse e esperasse tudo daria certo.
Sem demora, entregou uma mensagem de resposta endereçada ao príncipe viajante.
Durante meses as correspondências chegavam e iam aos montes, elas contavam detalhes de seus dias e noites, seus sentimentos e a saudade que abatia e maltratava ambos.
O rei, vendo que sua filha sofria por um rapaz que ninguém conhecia, ordenou que ela se casasse com um conde. Apesar de não concordar com tal decisão, a menina aceitou o casamento com respeito. A nobre não tinha coragem de contar ao seu amado tamanha fatalidade com medo de machucá-lo, então parou de mandar cartas, para que sua angústia e tristeza não transparecessem em suas palavras.
Já no dia do casamento, quando escrevia ao príncipe de bicicleta, para contar-lhe tudo e desculpar-se, a menina recebe uma carta.
O choque foi tão grande que ela deixou o tinteiro cair no vestido de noiva. No envelope havia uma rosa vermelha e os seguintes dizeres:
“Não se case, esse conde não te ama de verdade, ele quer vingança porque sua mulher o deixou para viver comigo. Desculpe, mas encontrei alguém que me faça feliz e já não posso voltar.”
Sem pensar no que estava fazendo, a princesa tirou o vestido de noiva e saiu do reino. Foi para as montanhas, viver em sua paisagem preferida.
Foi para não mais sofrer.


Texto: Rhanna Ramos
Revisão: Lene Fernandes

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