sábado, 19 de junho de 2010

O Segredo

E toda manhã, só de saber que nos encontraríamos, eu acordava com a nossa música predileta no despertador.
E mesmo que chovesse, o sol brilhava sobre mim.
Eu vestia a melhor roupa e passava o perfume mais suave, aquele que lhe agradava.Tudo para ele.
Uma sensação indescritível, uma emoção incomensurável.
Não era uma regra, mas eu sempre chegava primeiro, só para vê-lo entrar na escola, com o sorriso mais doce e o olhar mais encantador. Meu sentimento não era em vão.
Estávamos no mesmo grupo de estudos, formávamos a dupla nas aulas de laboratório, íamos as estréias de filmes juntos e toda tarde de domingo sentávamos em frente a sua casa para presenciar o por do sol e confidenciar nossos segredos.
Fomos feitos um para o outro, até aquela noite de sábado.
Eu escrevia no meu diário quando a campainha tocou. Deixei-o aberto sobre a escrivaninha, junto com meus livros, e desci sem exitar.
Era ele. Abri a porta e lá estavam aqueles olhos claros e brilhantes me olhando. Havíamos combinado de fazer uma maratona de filmes.
Ele subiu para pegar os filmes e eu fiz a pipoca. Não estranhei a demora, ele devia estar brincando com a bola de basquete do meu irmão.
Foi a melhor noite, rimos, choramos, comemos e cochilamos nos filmes chatos. Já de manhã nos despedimos com um abraço – de uma maneira diferente, até estranha – e então ele se foi.
Só ai eu senti a dor, aquela que me tomava toda vez que tínhamos de nos separar, porém, esta foi de arrebatar, era insuportável. Subi para o quarto para me recuperar e lá estava, sobre meu diário fechado, o bilhete mais doloroso de todos:
“Querida Jullie, hoje descobri que seu maior segredo é o mesmo que o meu. Só não te contei antes por medo de não ser correspondido. Este é o dia mais feliz e mais triste da minha vida, pois tenho uma viagem para o Japão marcada ás 10 horas de amanhã. O resultado do meu exame foi positivo e farei meu tratamento lá.
Não esqueça de quem te amou tanto um dia.”
Eu poderia negar a mim mesma que o autor daquelas palavras era o meu mais profundo amor, mas a caligrafia era inconfundível, com suas curvas e deixas.
Foi a ultima vez que o vi passar por aquela porta.

domingo, 6 de junho de 2010

Heart


Por favor, peço que me perdoe , não me condene.
Sei que você não entende o porquê de tudo isso, mas confie em mim, é para o nosso bem. Estou pensando em ambas as partes.
Tenho me mantido longe de quaisquer indícios de problemas, de sentimentos que podem nos fazer mal – carinho, atração, olhares , sorrisos e até mesmo a carência. Eles são nossos maiores inimigos, nos fazem acreditar, iludir e depois ficamos assim, em pedaços.
Muitas vezes me proíbo de sonhar, justamente para não cometermos os mesmo erros. Não gosto de contos de fadas, prefiro amores que durem mais que algumas páginas.
Algum dia, poderemos acreditar de novo, nos entregar perdidamente, amar incondicionalmente, mas não como antes, será diferente. Estaremos nos braços de quem nos quer por inteiro e verdadeiramente. Mesmo que as marcas do passado ainda estejam lá.
Não se preocupe, estamos seguros dentro do nosso casulo, fora do mundo real.
Não posso me permitir te machucar mais uma vez. A final, quando tudo acaba, quem suporta as dores é você. Não é, Coração?

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Just a Child



Para alguns, eu posso estar sendo dramática. Outros, talvez, me entenderão.
O fato é que estou prestes a completar 20 anos. Seria lindo se não fosse trágico.
Ok, trágico é uma palavra exagerada. O termo “frustrante” se encaixaria melhor.
Todo ano eu espero, ansiosamente, pelo dia mais lindo do ano, o dia dos namorados, meu aniversário. Mas, em 2010 eu só queria poder adiar esta data.
Tudo está indo tão rápido que eu gostaria de ir mais devagar, ou até mesmo parar.
Desde que eu tinha quinze anos, minha vontade era sair de casa assim que eu atingisse a maioridade. Como se fosse fácil assim. Só descobri que não era simples quando já estava com dezoito anos.
Bem, conseqüente a essa “decepção”, outras vieram. Não fui para a faculdade quando acabei a escola e, a principal serventia do meu curso de nutrição, foi me certificar de que eu não seguiria aquela profissão.
Claro, não foram anos perdidos. Sei que tudo tem um lado bom, mas infelizmente , esse ponto de vista não me ajudou a sair do lugar.
Já não posso reclamar do meu emprego (agora sou funcionária pública), e finalmente iniciei meu curso de teatro. Essas são, com certeza, as melhores coisas que me aconteceram. Porém, ainda não são suficientes, terei de adiar meus planos mais uma vez.
Eu estou frustrada com tudo o que deixei de fazer nesses longos anos. Se pudesse, voltaria aos meus 11 anos e faria tudo o que não fiz.
Mas como explicar a uma criança que ela precisa amadurecer, e tão rápido?