segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Meus Pedidos

Todo ano, no reveillon, depois de desejar feliz ano novo à todos, eu faço meus agradecimentos pelo ano que passou e pedidos para o ano que chegou.
Desde que me entendo por gente minha lista é a mesma. Peço paz, para que as pessoas do mundo inteiro não comecem guerras por pura ganância ou preconceito; harmonia, para que minha família possa se unir e permanecer unida cada vez mais; dinheiro, só o suficiente para ajudar minha mãe nas contas; e amor, a final quem não quer viver uma linda história?

Bem, esse ano resolvi fazer uma pequena mudança na minha lista. Vou retirar o amor e pedir atitude. Não porque eu desisti de amar, pelo contrário, o amor vai ser excluído justamente pelo fato de ele já estar presente na minha vida, bem aqui guardadinho com as melhores lembranças. Em 2010, quero um pouco menos de turbulência nesse espaço tão pequeno para que eu possa caminhar rumo aos meus objetivos sem um coração pulsando incontrolavelmente no meu peito. Claro que se aparecer alguém.... Quem sabe não é?
Inclui atitude por um motivo único: de que adianta pedir tudo e não tomar a iniciativa? Pois é, eu sinto como se em 2009 tivessem me empurrado e eu nem percebi quando cheguei ao fim, como se a vida fosse um filme e eu a telespectadora. Eu parei no tempo por causa de algumas crises e infelizmente não deu para recuperar o tempo, mas nesse novo ano não vai ser assim, vou colocar meus planos em prática, dar um “up” na minha vida e continuar o que eu comecei há tantos anos....
E que venha 2010.

Texto: Rhanna Ramos
Revisão: Lene Fernandes

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

O Tal do Conhecimento


“Conhecimento é a única coisa que ninguém pode nos tirar”. Durante toda a minha “enorme” vida já me peguei reproduzindo este ditado inúmeras vezes.
Mas agora, passando por uma fase um tanto tensa, eu pude visualizar que essa frase não tem um sentido tão amplo.
Na adolescência - fase mais intensa, em minha opinião - o conhecer se torna mágico, fascinante, tanto que queremos descobrir e viver tudo ao mesmo tempo. Nós até podemos fazer isso, basta dar um passo após o outro e não ter pressa. Mas e quando o andar aumenta a velocidade e perdemos o ritmo?
Nesse ponto, quando a sede por viver intensamente faz você deixar família, amigos, ou seja, tudo para cair no mundo e ser feliz, o êxtase é frenético e bloqueia tudo que possa te fazer parar.
Lá pela meia idade, quando você se dá conta, o ritmo fica lento, você olha para trás e questiona quem e o que se tem.
Você tem as lembranças das viagens pelo mundo, das pessoas que conheceu, das empresas que trabalhou, das casas onde viveu, das roupas que vestiu, mas são recordações confusas, algumas até se fundem no real e no imaginário.
E você tem sua família, aqueles que abandonou e deixou passar fome por puro egoísmo. E eles não se importam, pelo contrário, abrem as portas de suas casas e te recebem com todo o carinho.
Agora, sem ter onde morar, sem ter o que comer, sem emprego, quem te sustenta são seus irmãos. Seu dia se resume a vagar pelas ruas, fumar e assistir tv.
Mas mesmo dependendo dos outros, seu orgulho ultrapassa os limites, não sente vergonha em recordar tudo o que viveu e ainda provoca intrigas, fofocas, causa nervosismo. Parece que seu intuito é abalar uma estrutura que já é frágil: a união de sua família.
Então de que adiantou a busca pelo conhecimento se você não construiu base, se já não uniformizou nenhum laço de sentimento verdadeiro, se seu psicológico está fraco e sem sustentação...
Prefiro ficar aqui, conhecer o que está perto e poder lembrar claramente de cada detalhe pra sempre...



Texto: Rhanna Ramos
Revisão: Lene Fernandes
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segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Fuga

Decidi largar tudo. Só por hoje.
Peguei meu iPod, o livro que estava lendo e todo o dinheiro que guardei da mesada nos últimos meses. Não sabia exatamente para onde estava indo, mas peguei o primeiro ônibus que ia sair da rodoviária.
Depois de 2 horas dentro do ônibus, cheguei e lá estava o mar!
Tirei meus sapatos e a mochila das costas, andei pela areia e molhei os pés. Tudo parecia tão mais calmo aqui, como se houvesse apenas eu e o oceano no mundo.
Depois de algum tempo, não sei quanto, percebi que havia um rapaz agachado ao meu lado. Usava uma bermuda florida que estava molhada, seus cabelos iam até os ombros e ficavam de um tom mais claro nas pontas como se estivessem queimados pelo sol. Com certeza era um surfista. Ele não pareceu reparar no meu olhar confuso.
- É tão bom observar o mar e sentir os problemas irem embora com o pôr do sol, não é?
Continuei virada para frente e olhei de esguela. Ele parecia tão confortável ali.
- Por que você simplesmente não conversa com eles?
Cada vez que ele falava sua expressão ficava mais carinhosa, suave e angelical. Como poderia ele ser tão diferente de todos e ainda saber o que eu estava pensando? Enruguei a testa.
- Pessoas como você vêm aqui todos os dias. É como mágica, como se fosse um remédio para alma. Elas vêm aqui, respiram o ar salgado, se sentem mais leves e voltam de onde vieram...
Eu queria mesmo desabafar com um estranho?
- Então, o que eles fizeram?
Decidi que sim.
- Eles sempre fazem na verdade.
Ele esperou.
- Meus pais são separados. Eu moro com a minha mãe, ela é enfermeira e trabalha no período noturno. Só a vejo de manhã quando ela chega do trabalho e eu saio pra escola. Meu pai mora na mesma rua que nós, ele é segurança, trabalha o dia inteiro e depois vai direto para o bar. Eu o vejo uma vez por semana.
- Eles não têm tempo para você. - concluiu o surfista.
Afirmei positivamente com a cabeça.
- Desde que eu tenho nove anos participo do grupo de teatro, e com quinze, entrei para o jornal da escola. Eles nunca foram a nenhuma peça minha e nem sequer sabem que tenho uma coluna só para mim. Sempre ouço aquele papo de “ser atriz é para poucos” ou “escrever é para quem tem o dom”. Como eles podem não confiar em mim? Eles me criaram.
- Seus pais só querem o melhor para você!
- Eu sei, mas o melhor para mim é estar no palco. Amanhã é minha ultima peça escolar e a diretora da escola de artes vai me observar. Meu futuro depende disso e eles nem sabem...
- Como assim? Você não os convidou? O medo deles é que você se perca...
- Eu não posso viver numa bolha para sempre. Eu tenho que ser livre!
- Você é livre! Tanto que está aqui, não para tomar uma decisão, mas para decidir como não magoá-los.
Nos olhamos e em seguida miramos o sol. Tanto tempo havia se passado que o céu estava laranja.
Passados alguns segundos, o garoto levantou de súbito.
- Tenho que ir, está ficando tarde.
- Mas...
- Não se preocupe, vai dar tudo certo.
Ele passou a mão no meu cabelo.
Me virei para pegar a mochila, mas ele já não estava lá.
Atordoada, resolvi pegar o ônibus de volta para casa. Dei adeus ao mar e caminhei até a rodoviária.
Cheguei em casa exausta, coloquei “ Girl, They Won’t Believe” na maior altura possível, tomei um banho e envelopei dois convites da semana cultural da escola.
Sem exitar, entrei no quarto da minha mãe e deixei um sobre o travesseiro, fui até a casa do meu pai e empurrei um por baixo da porta.
Voltei para casa, subi as escadas correndo, entrei no pijama, coloquei Bella’s Lullaby no player e dormi. Tinha que descansar, afinal, amanhã era meu grande dia...


Texto: Rhanna Ramos
Revisão: Lene Fernandes
Foto

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O Príncipe de Bicicleta


No dia quatro de janeiro de um ano qualquer, chegou a vez dela. Por quê?
Ela sempre sonhou com o príncipe encantado, aquele que vem em um cavalo branco, que abra a porta da carruagem, que a entenda, que goste dela e a respeite.
Por puro azar, os príncipes que se apresentavam a ela pareciam sapos ou eram verdadeiros ogros.
Mas nesse dia não. Era o dia dela. A ama entrou no quarto - havia uma cama coberta por um véu azul, uma vista que dava para as montanhas, um livro sobre a poltrona ao lado da janela e um espelho que refletia a pele branca, os cabelos negros, os lábios rosados da filha do rei, que se penteava.
Cheia de surpresa e uma ânsia que não cabia em si, a princesa abriu o envelope e leu o que havia na carta trazida pela ama.
O espanto foi tamanho quando a menina reconheceu a letra que por um momento pensou estar enganada. Era ele, o jovem com quem se encontrava para desabafar, aquele com quem sorrira ao pôr do sol tantas vezes, o mesmo que lhe dava rosas vermelhas a cada novo dia, era ele, o seu melhor amigo. No papel, as palavras lidas refletiam o querer e o amor que o tão próximo amigo sentia por ela. Mas há tanto não se viam, como poderia ele ainda pensar nela? E de forma tão singela e carinhosa.
Toda sua indecisão e sensatez sumiram quando se lembrou dos detalhes, lembrou que ela tentava não confundir os sentimentos, mas agora ela sabia: ele a queria e ela o queria com a mesma intensidade.
Só uma coisa a angustiava: ele era um príncipe viajante. Seu principal objetivo era levar sua filosofia de vida para os outros reinos. Ia sempre com sua bicicleta onde quer que o chamassem. Tinha os cabelos cacheados e negros como a noite, era alto, e tinha um riso infantil.
Mas na carta dizia que se ela o aceitasse e esperasse tudo daria certo.
Sem demora, entregou uma mensagem de resposta endereçada ao príncipe viajante.
Durante meses as correspondências chegavam e iam aos montes, elas contavam detalhes de seus dias e noites, seus sentimentos e a saudade que abatia e maltratava ambos.
O rei, vendo que sua filha sofria por um rapaz que ninguém conhecia, ordenou que ela se casasse com um conde. Apesar de não concordar com tal decisão, a menina aceitou o casamento com respeito. A nobre não tinha coragem de contar ao seu amado tamanha fatalidade com medo de machucá-lo, então parou de mandar cartas, para que sua angústia e tristeza não transparecessem em suas palavras.
Já no dia do casamento, quando escrevia ao príncipe de bicicleta, para contar-lhe tudo e desculpar-se, a menina recebe uma carta.
O choque foi tão grande que ela deixou o tinteiro cair no vestido de noiva. No envelope havia uma rosa vermelha e os seguintes dizeres:
“Não se case, esse conde não te ama de verdade, ele quer vingança porque sua mulher o deixou para viver comigo. Desculpe, mas encontrei alguém que me faça feliz e já não posso voltar.”
Sem pensar no que estava fazendo, a princesa tirou o vestido de noiva e saiu do reino. Foi para as montanhas, viver em sua paisagem preferida.
Foi para não mais sofrer.


Texto: Rhanna Ramos
Revisão: Lene Fernandes