segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Às Quintas Feiras

Nós tínhamos acabado de voltar das férias de julho. Era uma quarta-feira e eu fui a única da minha galera a ir assistir às aulas.
Enquanto eu olhava a lista dos novatos, alguém tampou meus olhos com as mãos e me fez adivinhar quem era. Eu sou péssima com essas coisas, e além disso a escola era enorme, poderia ser qualquer um querendo curtir com a minha cara. Depois de algumas tentativas, ele desistiu.
- Caramba, nem um mês de férias e você já esqueceu de mim?!
Sim, era ele, o cara que passava na porta da minha sala toda quinta feira. Ele, com seus 1,85 m de altura, ombros largos, uma pele “cor de canela”, seus olhos misteriosos e sua boca – ah, a sua boca era o verdadeiro caminho para a perdição.
Durante um mês eu o vi fazer o mesmo caminho para o auditório (que ficava ao lado da minha sala). Descobrir seu nome foi a missão mais fácil. Enquanto ele olhava sites na biblioteca da escola, a carteirinha ficava sobre a mesa. Foi moleza!
E o melhor: fazíamos o mesmo curso. Sim, ele estava no 1º semestre e eu no 2º semestre.
Como nos conhecemos?
Numa noite comum, eu e minha amiga estávamos correndo para o ponto de ônibus (como fazíamos sempre), quando encontramos ele e um amigo no caminho.
- Vocês vão correr, mas nós vamos chegar antes!
- Como vocês sabem para onde vamos?
- Fácil, nós pegamos o mesmo ônibus!
Simples assim. A partir desse dia, as coisas aconteceram em uma sequência e ritmo inexistentes. Apesar de nossas salas serem distantes, nos encontrávamos nos corredores constantemente, tínhamos assuntos a tratar com professores que estavam na sala do outro, nos víamos com mais frequência no pátio...
Mas como sempre, eu tinha uma rival. Não, rival não. Nós só não nos gostávamos – de jeito nenhum. Para ser sincera, ela não me atrapalhou de maneira nenhuma. O ciúme que ela tinha dele comigo só me fazia rir ainda mais.
Quatro meses e eu já sabia que nós éramos opostos. Noventa por cento das vezes discordávamos dos pontos de vista um do outro, mas nem assim nos afastávamos.
Nossa única semelhança era o time para qual torcíamos. Provavelmente era isso que eu queria. Ver o lado dele, viver no mundo em que ele vivia, ser transportada para um planeta mágico, onde fossemos só eu e ele.
Nas férias, conversávamos somente por e-mail, eram férias comuns, passeios comuns, pessoas comuns. E então nós estávamos lá, no meio do pátio, sozinhos. Ele me olhando com o sorriso mais lindo de toda a minha existência estampado em seu rosto e eu com cara de “fiz merda”.
- Ah! Oi! Como passou as férias? Fomos para a sala com 30 minutos de atraso.
Enquanto caminhávamos para a minha sala, eu não sei bem o que aconteceu naquele momento. Acho que tive algum tipo de reação instantânea pelo fato de que íamos nos separar logo mais, e mandei:
- Amanhã vai ter campeonato de futebol naquela lan house que o pessoal frequenta, está a fim? Ele me olhou assustado, mas depois deu um sorriso de lado. -
- Ah, eu não sei. O que você acha?
- O semestre passado eu fui, foi de Guitar Hero. Foi muito bom...
- Está combinado, então. Amanhã a noite é nossa!
Ok, eu confesso, entrei em pânico, quase tive um infarto. Eu tinha mesmo feito aquilo? E ele tinha realmente aceitado? Eu devia estar tendo alucinações...
Na noite seguinte, quando deveríamos estar na escola, nos encontramos em frente a lan house. Ela estava toda decorada, parecia um museu de futebol.
Aqui e ali víamos torcedores de times de todo o mundo, era tanta gente falando ao mesmo tempo que não conseguíamos nos ouvir. Escolhemos um dos quiosques para sentar e assistir. Ficamos horas torcendo e vibrando.
Estava sendo perfeito, nós discutíamos os gols, os chutes errados... Nosso time tinha chegado a final, e faltava um minuto para acabar o jogo quando o juiz marcou pênalti. Sim, penalidade máxima a favor do nosso time.
Tudo aconteceu de repente. O bonequinho se afastou, chutou e...
- GOOOOOOOOL.... Quando eu dei por mim, nós estávamos rodando, ele me abraçou, chegou mais perto e foi aí, no exato momento em que nossos lábios se tocaram, que eu fui para um outro mundo...O mundo dos sonhos...


Texto: Rhanna Ramos
Revisão:Lene Fernandes

Um comentário:

  1. E as quintas nunca firam as mesmas.
    Acho que tenho um grave problema com esse dia da semana!

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